Byzance, Rochas

Cheiro de noite estrelada. Não só pela aura quase mística e mágica, mas também por ser um buquê de flores noturnas. Uma das únicas tuberosas que eu relevo em um perfume, mesmo sendo bastante presente. Os aldeídos, com seu cheiro de limpeza, de sabonete fino e de aroma etéreo, símbolos do Ocidente, encontram especiarias que te levam ao Oriente. 

O azul noturno, com detalhes dourados, é uma ode à suntuosidade e ao exótico, relacionados a uma espécie de trocadilho no nome, Byzance e Byzantium - Constantinopla - a antiga capital do mundo, que unia o Oriente à Europa, foi berço do cristianismo e palco do islamismo. Essas duas características estão bastante presentes no belo frasco, com nuances incensadas e flores selvagens. A palavra também é o adjetivo francês para luxuoso.

Há um doce incomum no fundo de tantas notas. Não doce açucarado ou caramelado que estamos acostumados, tampouco frutal, mas ambarado sutil, com uma baunilha diferente. Após algum tempo, a tuberosa se acalma e dá lugar a outras flores como a rosa e o ylang ylang.

Bastante complexo e datado, não é um perfume fácil de usar hoje em dia, fácil de gostar ou para agradar geral. Possui muitas notas de difícil identificação nessa miríade de cheiros, muitas flores e muitos aldeídos tão odiados pelo público atual, que lhe confere um tom atalcado e bastante floral.

Na base, mais sândalo e menos o óbvio almíscar-branco-limpo-e-forte de sempre. Chega a ser um alívio não sentir esse cheiro tão usado nos estágios finais de um perfume. 

Foi lançado em 1987, descontinuado e relançado pela Rochas em 2017, dizem que reformulado. Hoje essa versão vintage é bastante procurada por colecionadores e órfãos.

Para mim, é a mais maravilhosa lembrança da minha já falecida e muito amada tia-avó, que usou Byzance por vários de seus 93 anos bem vividos.

Notas

Saída: aldeídos, especiarias, cravo, notas verdes, tangerina, manjericão, limão verdadeiro ou siciliano e cardamomo.

Coração: tuberosa, raiz de orris, jasmim, rosa turca, ylang ylang, lírio-do-vale e anis. 

Base: sândalo, âmbar, almíscar, baunilha, heliotrópio e cedro.