La Petite Fleur d’Or, Paris Elysees

Não gosto muito de contratipos, a ideia de ter a cópia de algo que já é copiado à exaustão na perfumaria mainstream não me agrada em nada. No entanto, cá estou eu, dando o braço (e a perna, e as mãos...) a torcer para falar sobre essa belezura aqui.

É preciso coragem para trazer a um mercado acostumado com a água com açúcar que a gente anda vendo, algo tão exótico e fora da linha floral-frutal-gourmand. Mas La Petite Fleur d'Or é bem elaborado e curioso, e dizem que é feito com Oud importado lá do Oriente Médio mesmo. 

Oud é um bicho difícil. Se não dosar e complementar bem, ele transita entre cheiro de hospital e urina de gato. Não é o caso aqui. Essa madeira (fungo) é sobressalente sim, mas domada. De cara já sentimos o incenso doce pairando sobre o oud, bem medicinal. Um ar bastante gelado e canforado vem do açafrão, picante e terroso. 

Dizem que foi inspirado no Valentina Oud Assoluto, e bem como o irmão, também sinto a nota de couro aqui, tão proeminente que não dá para esconder da pirâmide, mas ao mesmo tempo suavizado. Essa mistura de incenso, couro e oud me remete ao Shalimar tradicional. Há uma leve semelhança nesses acordes datados, mas eles seguem por vias diferentes e o couro aqui é mais agradável. Ênfase no contraste do calor úmido dessas três notas com o gelado e ardido açafrão. 

No coração, o oud esfumaçado encontra uma delicada rosa, escura, doce, polvorosa e também incensada. No meio do couro e do açafrão, que agora é só um resquício do que era na entrada, eles se dissolvem um no outro, conferindo ar romântico à composição. Essa dança oriental, que parece ter saído de uma casa árabe, se estende até a base.

Incensado, medicinal, balsâmico e bastante oriental, essa criança de 2015 tem dois pés no antigo e não é para os fracos.

Notas

Saída: açafrão e bergamota.

Coração: rosa, violeta, cedro e madeira guaiac.

Base: almíscar branco, patchouli, ládano e sândalo.