sexta-feira, 10 de maio de 2019

Ambre Narguile, Hermès


Ambre Narguile é um dos melhores perfumes que já provei, e também dos mais caros (acima de R$2.100 + taxas). Parte da linha exclusiva Hermessense (2004), foi desenvolvido com os melhores, mais caros e mais raros ingredientes que a perfumaria exclusiva dispõe. Eu adoraria chegar aqui e dizer: olha, não vale a pena, não é bom, não tem apelo, mas infelizmente ele é maravilhoso. 

Muito. Maravilhoso.

Já resenhei aqui o Dolcelisir, perfumão que busca sua inspiração nessa epopéia da Hermès. As principais diferenças, ao meu ver, estão nas notas separadamente. Acho a fava tonka mais natural e mais presente aqui, enquanto no Dolce a canela é mais evidente. Esse Hermès logo na saída também traz o rum bem mais alcóolico, mais real, mas vai se juntando às outras notas. Ele um tiquiiiiiinho de nada mais amarguinho, mas faz parte de seu charme. É um tiquinho mais sério também.

Em partes, percebo que seu amarguinho vem de folhas de tabaco que se escondem no meio dessas notas, tão bem escondidas que estão mergulhadas no mel. Essa tendência de tabaco embebido em licor e mel pode ser observada em perfumes como Velvet Teddy, Tobacco Vanille, Pure Havane e etc., mas cada um segue um caminho gourmand diferente. 

Ambre Narguilé, como o próprio nome sugere, faz referência à folhas de tabaco aromatizadas em um Hokkah, uma espécie de narguilé com origens no oriente médio. Aqui, esse tabaco recebeu doses e mais doses de âmbar bem docinho sendo queimado em um incenso, com toques gourmands de caramelo que não deixam o perfume enjoativo. A canela dá um toque quente e picante, e a tonka segura a base, bem licorosa e escura. 

São várias notas bem doces que se revezam, como dá para perceber, enquanto um toque mais fechado e incensado prende o fundo da fragrância. Conforme vai evoluindo para o coração e a base, esse tom amargo sai de cena e o mel fica mais evidente. Quem gosta de perfumes doces dificilmente não amaria ele. 

É uma bomba atômica, projeta um absurdo, não precisa mais que duas borrifadas para exalar por horas e mais horas. Uma única borrifada exalou e projetou por mais de quatro horas em mim, deixando rastro quase o tempo todo.

Como eu disse na resenha do Dolcelisir, ele é mais doce que o Ambre Narguile, mas coisa mínima. Se você não tiver a oportunidade de provar essa maravilhesa, o Dolce dá uma boa ideia do que é esse Hermès. Os dois lembram bastante a sobremesa alemã Apfelstrudel (o Dolce mais ainda), mas o Ambre tem uma pegada menos "frutas secas em calda" e mais "âmbar queimando". Tendeu?

É tão quente, até mesmo sexual, que só me passa pela cabeça um baile noturno pelas ruas escondidas de países latinos e caribenhos. Aquela coisa quente, suada, sensual, regada à tabaco cubano, fava tonka venezuelana, rum jamaicano, à fumaça dos salões, aos corpos quentes. E é melhor eu parar por aqui.


Tudo que eu peço do mundo perfumístico é que as marcas desistam de copiar Coco Mademoiselle e La Vie Est Belle e façam versões baratas e acessíveis dessas maravilhas caríssimas para mortais como nós. Não é difícil, vai?

Notas
Mel, benjoin, ládano, almíscar, baunilha, caramelo, fava tonka, gergelim, canela, rum, cumarina e orquídea branca.

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