Nº5, Chanel

A fama e o sucesso de vendas do N°5 se devem mais ao marketing pesado investido pela própria Chanel, já bem sucedida na época, do que gosto pessoal do público no tempo em que foi lançado, em 1921. Ela jogava o perfume em pessoas e salões lotados durante suas festas, além do mito de que Marilyn o usava para dormir. Independente disso, funcionou. Até hoje a influência dele é vista em talcos, sabonetes e demais produtos que imitam o cheiro. 

É compreensível também o motivo das pessoas se decepcionarem com ele, visto que seu cheiro marcou décadas há muito passadas. Felizmente não foi o meu caso. A versão que conhecemos hoje é uma readaptação do clássico de 1921, mais palatável e de acordo com as regras da IFRA.

De qualquer forma, it's all about aldeídos. Kilos. Tem que gostar pra encarar, ou ter paciência para esperar a evolução. Abre bastante assabonetado e atalcado, vai assentando na pele, revelando seu lado levemente adocicado pela baunilha, essa mais natural, menos sintética.

Não o considero forte, pelo contrário. Só que não me vem à cabeça suntuosidade, luxo, feminilidade ao extremo. Pra mim, ele passa longe disso. É como se eu adentrasse uma loja de artigos indianos ou esotéricos nos anos 90, onde uma cartomante e quiromante se encontra nos fundos, prestes a falar sobre passado e futuro. desculpa a viagem 

Ele tem uma aura mística, de rituais e crenças, de um tempo diferente, como um baú que guarda antiguidades quase esquecidas, e eu amo isso. Em partes, graças ao ylang-ylang oriental e a sensação de que incensos vegetais queimam ao fundo. Mas não é exótico demais para não ser usado por aí.

Dificilmente alguém vai errar a mão com ele, ou parecer fora de época. Nº5 conseguiu transcender quase cem anos (!!!) e continua aí para ser clássico, lindo e atemporal, não para ser "velho".

Notas

Saída: aldeídos, néroli, ylang-ylang, bergamota e limão.

Coração: íris, raiz de orris, jasmim, lírio-do-vale e rosa;

Base: âmbar, sândalo, patchouli, almíscar, civeta, baunilha, musgo de carvalho e vetiver.