Chamade, Guerlain

Primeiro, deixa eu contar para vocês minha historinha com esse perfume.

Estava eu passeando pela maravilhosa feirinha de antiguidades da Praça XV, aquela que só abre aos sábados de manhã, quando me deparo com uma miniatura. Viciada que sou, o nome Guerlain gritou aos meus olhos. Aquilo era vintage, não precisava olhar duas vezes. Peguei a caixa para ler as letras miúdas: Chamade. 

Um raio caiu ao lado da praça no mesmo momento. As primeiras gotas de chuva fizeram os vendedores guardarem com pressa as miudezas delicadas, e eu tinha alguns segundos entre o vendedor retirar os produtos expostos e o grupo de amigos turistas que eu guiava saírem correndo dos raios cada vez mais próximos. A compra toda demorou quatro minutos.

Em casa, pude apreciar aos poucos aquela miniatura com numeração na caixa, em edição limitada. O flacon Parapluie (guarda-chuva) foi vendido entre os anos 1952 e 1978 contendo as versões extrato dos principais clássicos da casa. Chamade foi lançado em 1969.

Pois bem, ele é sim vintage! Atalcado floral como todo mundo era no último século, mas significativamente verde.

Aldeídos entrelaçados por raízes verdes, cítricas e empoeiradas abrem Chamade, no melhor estilo setentetista - esse aroma verde vem do gálbano misturado a musgo de carvalho. Flores brancas felizmente ainda não eram tendência, mas tem jacinto, porque todo mundo usava jacinto em 1970, infelizmente.

E jacinto é uma flor complicada. Ela tem aquela faceta que mistura folhinhas de mato frescas com toques ligeiramente carnais.

As flores secas com ares verdes e aldeídicos definem bem a complexidade da criança: jacinto, gálbano, aldeídos e musgo de carvalho. Notas pouquíssimo apreciadas usadas na perfumaria atual para encabeçar fragrâncias, vocês podem imaginar o motivo.

Finíssimo, porém carregadíssimo e dramático.

Notas

aldeídos, jasmim, jacinto, bergamota e rosa. 

Coração: lilás, gálbano, jasmim, cravo e lírio-do-vale.

Base: tolú bálsamo, bálsamo do Perú, sândalo, âmbar, baunilha, benjoin e vetiver.